É possível sofrer um infarto sem ter artérias entupidas?
15 março, 2022
O que acontece no infarto é que uma das artérias que leva sangue ao coração fica entupida de colesterol e, para piorar as coisas, se forma um coágulo que acaba obstruindo por completo o fluxo de sangue. Sem sangue, a parte do coração suprida por aquela artéria agora obstruída acaba “morrendo” na medida em que os minutos passam e o fluxo não é restabelecido. Enquanto isso acontece, o indivíduo está sofrendo aquela intensa dor no peito que, quando dá tempo, o leva a procurar atendimento médico. O que é feito então pelo médico, uma vez reconhecido o infarto, é tentar desentupir o mais rápido possível a artéria obstruída. Isso pode ser feito com remédios ou por cateterismo cardíaco.
Perceba que até agora falamos do entupimento como causa primária do infarto. E é mesmo. Mas, sendo assim, como explicar então o que aconteceu com o paciente que recebi hoje?
Júlio me procurou cheio de dúvidas ao receber alta do hospital onde realizou o enésimo cateterismo. Cateterismo que, assim como todos os anteriores, veio obstinadamente e completamente normal: sem entupimento algum (veja foto em anexo). E, no entanto, não sobrava dúvida: Júlio sofrera um infarto, assim como documentado pelos valores altíssimos de troponina, o exame de sangue mais fidedigno para detectar o problema (veja a outra foto em anexo). Quando Júlio me pediu explicações, cansado de ter sido submetido repetidamente a exames invasivos que não mostraram a causa do seu problema, respondi: “É culpa de Prinzmetal”. Notando a expectativa que minha resposta lacônica gerou, acrescentei “esse é o nome que damos a um fenômeno que consiste no espasmo das artérias do coração. Em determinadas circunstâncias pode acontecer que a artéria de repente se feche como um punho bem apertado. Esse espasmo, por mais que seja transitório, acaba tendo os mesmos efeitos de um entupimento e pode levar ao infarto. Com a diferença que, na hora de fazer o cateterismo, as artérias agora novamente relaxadas, aparecem traiçoeiramente normais”.